- Médicos = +Humor
O hábito de rir das ações de saúde pública encontra-se enraizado no brasileiro há décadas, especialmente no nosso humor gráfico. Nessa arte, a primeira manifestação de que temos notícia é a charge de Henrique Fleiuss, intitulada As Yallas do Rio de Janeiro, publicada em A Semana Illustrada, em 1861. Em sua charge, Fleiuss mostrou a figura da morte chegando com seu séquito macabro, em alusão às péssimas condições sanitárias daquela época.
Mais de 150 anos parados, podemos dizer que as doenças, o descaso com a saúde pública ou mesmo a ausência de ações de saúde daquela época, hoje ainda estão presentes no cotidiano brasileiro: milhares de leitos desativados em todo o país, falta de medicamentos, pessoas sendo atendidas nos corre- dores, os excluídos que sequer têm acesso aos serviços médicos básicos, a lógica do lucro, que trata a saúde como bem de consumo, como mercadoria, além das questões éticas com as novas tecnologias, o dia-a-dia do profissional de saúde, são apenas alguns exemplos.
Hoje, mais uma vez o riso e a saúde se unem no +Humor. Em campo, Amorim, André Brown, Dil Márcio, Fausto, Luís Pimentel, Mayrink, Ykenga e Ulisses colocam seus traços a serviço da indignação com todo esse cenário triste que nos envolve, expondo satiricamente a difícil realidade sanitária do nosso país, ao mesmo tempo que cumpre importante papel como instrumento de mobilização social.
Através da arte de fazer rir e ao mesmo tempo perguntar como é possível rir num momento como esse? O humorista tem a resposta simples: a comédia de costumes será sempre um retrato de costumes marcados pela desigualdade e pelo anseio social. E nesse contexto o artista nunca foi um alienado, usando um termo antigo.
Com muita competência, os cartunistas de +Humor protagonizam os repórteres dos tempos atuais, escrevendo crônicas visuais extraídas do cotidiano. Com a pena na mão e os olhos em todas as direções: nos atendimentos de emergência, nos consultórios, espiando como “voyeurs”, o ambiente doméstico, nas ruas, nos hospitais, no esgotamento sanitário, no meio ambiente.
+Humor chegou! Não pretendemos ser um Pasquim, pois os tempos são outros. Porém, assim como ele, encaramos o humor como coisa séria. +Humor abre uma nova trincheira para a resistência desses heróis do traço: os cartunistas. Em seu projeto a newsletter tem como proposta priorizar mais cartuns e charges, com textos não tão extensos e com uma linguagem simples e objetiva.
+Humor é uma newsletter que não conta com nenhum patrocínio, seja do setor público, privado, muito menos de nenhum político. Mesmo num momento que tanto se fala na dificuldade e na expectativa nada otimista quanto à longevidade da mídia impressa, o humorista, esse moleque travesso que ainda consegue manter a razão e a graça apesar de tudo, optou por não medir esforços e continuar despejando na praça papel impresso, enquanto ainda houver uma impressora funcionando numa gráfica.
+Humor no cenário brasileiro permite dois comentários: o palavrão ou o riso. Mas, como nos dois casos usamos os mesmos músculos para manifestá-los, optamos pelo riso, que é uma forma mais socialmente aproveitável de indignação. Portanto, +Humor!
Mayrink
Amorim
André Brown
Dil Márcio
Fausto
Tem cura, doutor?
Não adianta espernear nem trocar o prontuário.
Nos hospitais públicos, postos de saúde, emergência de atendimento ou em qualquer instalação onde o pobre seja instalado quase sempre para morrer, a pergunta que cala e dói – feito crepe na boca ou tratamento de canal sem anestesia – não é mais se existem possibilidade de cura.
É:
– Tem cama, doutor?
Cama, leito, maca, colchonete, esteira, jornal de ontem ou papelão para quem está se transformando em papel usado na fila da indigência são itens tão fundamentais quanto médicos e medicamentos.
Junto com a saúde do país – que agoniza diante da arrogância, do despreparo e da destinação de verbas para Pastas e patentes prioritárias – estamos morrendo aos poucos.
Ainda bem que aos poucos. Não temos pressa.
Mayrink
Ykenga
Ulisses
Até a próxima semana!